Transtorno bipolar (bipolaridade): o que é, tipos e tratamento

Transtorno bipolar é uma condição psiquiátrica crônica e recorrente que se define pela alternância entre estados de humor depressivo e humor eufórico, este podendo ir do que é chamado de hipomania à mania plena.

Tanto o estado depressivo ou de mania da bipolaridade podem variar de intensidade e tempo de duração dependendo do tipo diagnosticado. Podem manifestar sintomas psicóticos como delírios de grandeza, de paranoia e etc. Para o diagnóstico do transtorno bipolar não basta que haja simples oscilações de humor, como é dito popularmente.

As causas e influências para o desenvolvimento de um quadro bipolar são variadas e complexas, mas estudos indicam que fatores hereditários e genéticos possuem relevância considerável para a manifestação da doença, sendo que os primeiros sinais surgem ao fim da adolescência e início da vida adulta (por volta dos 18 aos 25 anos de idade).

Fatores socioculturais de vulnerabilidade, como histórico de traumas ou abusos também podem influenciar na gravidade de um quadro. Além disso, a comorbidade com outras doenças psiquiátricas, como transtorno por uso de substância e quadros de ansiedade também são verificados em estudos e na prática clínica com pacientes com transtorno bipolar.

Quando o quadro da doença não é tratado de forma adequada, as pessoas que sofrem desse transtorno costumam apresentar uma série de dificuldades nos relacionamentos afetivos, dificuldades no trabalho e em outras esferas da vida social. Somado a isso está a instabilidade afetiva relacionada ao transtorno, o qual costuma ser descrito de uma forma cíclica.

Os sintomas de mania ou de depressão geram alterações na cognição e nos pensamentos, os quais por sua vez geram alterações comportamentais prejudiciais para a pessoa. Essas alterações comportamentais geralmente são acompanhadas de desfechos negativos, com aumentos de insônia ou dificuldade em manter uma rotina, o que por sua vez acarreta novos episódios de depressão ou mania. E assim o ciclo se reinicia.

Em quadros mais graves, os prejuízos da doença interferem de forma a isolar a pessoa que sofre, reduzindo o seu bem-estar e o de familiares e pessoas próximas. Além disso, há também a perda em funções executivas, com o surgimento de tiques, e nas funções cognitivas, gerando esquecimentos ou dificuldade em processar informações complexas ou dados emocionais.

Em última instância, um transtorno bipolar mais severo pode levar a comportamentos suicidas, os quais são frequentemente observados em pessoas com essa condição.

Tipos de transtorno bipolar

Os episódios maníacos ou depressivos, bem como a duração e intensidade de cada um determinam a qual categoria o quadro bipolar se encontra. No caso da Classificação Internacional de Doenças (CID-10), o transtorno bipolar pode ser dividido nas seguintes classificações:

  • Transtorno Bipolar I;
  • Transtorno Bipolar II;
  • Ciclotimia;
  • Transtorno Bipolar sem outra especificação.

Transtorno bipolar I

Os critérios para o transtorno bipolar tipo I envolvem especificidades para os episódios de mania e para os episódios de depressão.

De forma geral, os episódios de mania são caracterizados por um humor mais expressivo e eufórico, eventualmente irritadiço, com mais disposição de energia e vontade de realizar atividades ou uma tarefa específica. Esse estado de humor deve durar ao mínimo uma semana e persistir com consistência ao longo de um dia.

Algumas características da mania e da hipomania envolvem:

  • Grandiosidade ou aumento notório da autoestima ou bem-estar;
  • Fala rápida ou desconexa com dificuldade de parar de falar;
  • A pessoa tende a ficar distraída com mais facilidade;
  • Presença de pensamentos rápidos ou inconstantes;
  • Sono desbalanceado ou menor necessidade de dormir;
  • Engajamento em atividades de risco.

Em paralelo, os episódios de depressão devem perdurar por no mínimo duas semanas, sendo que algumas das principais características envolvem um retraimento no humor, perda de interesse por pessoas e atividades. Outros sintomas podem ocorrer em paralelo ao estado depressivo, como perda de peso, insônia, fadiga, pensamentos recorrentes sobre morte e ideação suicida.

Transtorno bipolar II

O transtorno bipolar tipo II envolve a presença de episódios de hipomania e depressão, sendo que a hipomania é definida pela presença de características da mania, mas de forma atenuada. Além disso, os episódios costumam ser mais alternados.

Ciclotimia

A ciclotimia por sua vez é caracterizada por uma inconstância nos episódios de mania e de depressão, de forma que alguns dos critérios não são preenchidos de forma satisfatória. Além disso, a frequência dos episódios deve ser numerosa. Ou seja, é possível que a pessoa tenha, no mesmo dia, episódios de hipomania e episódios de depressão.

Transtorno bipolar sem outra especificação

A ausência de marcadores para os critérios para os três diagnósticos falados logo acima levam a este último diagnóstico. Alternar entre um estado de humor para outro de forma brusca ao longo dos dias, bem como estar sob efeito de alguma medicação ou droga também podem levar a essa designação.

Mecanismos biológicos

Conforme mencionado anteriormente, o transtorno bipolar é crônico, hereditário e com forte influência genética. Vale notar que estudos identificam uma série de fatores que contribuem para o desenvolvimento da doença, desde aspectos neuronais, com a liberação de certos neurotransmissores, mas também de neurofisiologia, como a redução da massa cinzenta no córtex pré-frontal.

Em termos neuroquímicos, a liberação de dopamina durante os episódios de mania é mais visível em pacientes que sofrem de transtorno bipolar. Além disso, determinados aminoácidos como glutamato e glutamina estão mais presentes no córtex pré-frontal de pacientes bipolares.

Outros problemas como abuso de substâncias, uso de medicamentos fora de prescrição médica e dietas pouco saudáveis também têm poder de contribuir para um desenvolvimento mais agressivo do transtorno, já que pode desencadear um efeito cascata sobre os sistemas dopaminérgicos do sistema nervoso central.

Outros fatores como estressores ambientais, vivências traumáticas e histórico de violência também agem como elementos que propiciam variações mais significativas de transtorno de humor. Ou seja, a narrativa biográfica da pessoa pode também interferir em como e com qual intensidade os sintomas do transtorno irão se manifestar, seja na forma de mania e hipomania, ou na forma de um quadro depressivo maior.

Algumas pesquisas indicam que a relação entre esses elementos leva a perdas funcionais do cérebro, com agravamento cognitivo em certos casos, e podem levar a prognósticos menos promissores. Nesse caso, o tratamento com medicações torna-se imprescindível para retomar um estado de homeostase em que a liberação de dopamina e outros neurotransmissores seja equilibrada.

Tratamentos

Os tratamentos para bipolaridade ainda são fortemente influenciados por um modelo biomédico. Contudo, com a presença de novos agentes de saúde, um modelo biopsicossocial passou a ser mais descrito na literatura científica.

É importante enfatizar que o tratamento farmacológico para o transtorno de bipolaridade é fundamental, tendo em vista que a distribuição e o disparo de neurotransmissores específicos exigem um amparo por meio de medicações a serem prescritas por um psiquiatra. Os estabilizadores de humor são uma classificação de medicações comumente utilizada neste tipo de tratamento.

Atualmente, a inclusão de psicoterapias ao longo do tratamento pode auxiliar os pacientes nos períodos de hipomania e períodos de depressão por meio da adoção de diferentes estratégias:

  • Terapia de fala;
  • Psicoeducação;
  • Terapias para familiares;
  • Dentre outros modelos indicados para o transtorno.

Explicações mais gerais sobre necessidade de sono, alimentação correta e rotina de exercícios também podem contribuir para uma melhora em termos físicos da doença e dos sintomas.

Por meio de tais ferramentas, espera-se que o paciente consiga mapear situações estressoras que desencadeiam o início de um episódio de variação de humor. Quando os episódios ocorrem com mais frequência, é comum que haja o desenvolvimento de uma instabilidade afetiva, isto é, respostas duradouras e intensas para os problemas que aparecem.

Quando não acompanhado e mapeado, estes momentos podem gerar diversas consequências: prejuízo nas relações interpessoais, engajamento em comportamentos compulsivos como dirigir em alta velocidade ou gastar mais dinheiro do que se deve com compras e assim por diante.

Este modelo da instabilidade afetiva atrelada às variações de humor pode ser mapeado e gerenciado por meio de terapias cognitivo-comportamentais. Dessa forma, pode-se agir em diversos períodos do ciclo com o objetivo de corrigir e aprimorar comportamentos, auxiliar na percepção de pensamentos e crenças disfuncionais e propor modelos de prevenção de recaída, já que se trata de um transtorno com fases.

Além disso, o condicionamento dos comportamentos entre estímulos e respostas pode ajudar na redução dos episódios de mania e durante as fases de depressão. Além disso, quando é feito um acompanhamento cognitivo do transtorno afetivo bipolar, com a análise de pensamentos e crenças, pode-se ajudar a reduzir e entender mais a fundo os sintomas.

Por fim, programas de reabilitação neuropsicológica podem ser acionados de forma a auxiliar pacientes que, em função do avanço do transtorno, apresentam comprometimento em funções cognitivas e executivas.

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